Inspirações da cidade numa Casa de CampoFica mesmo no centro da aldeia de Chãos, freguesia de Donas, concelho do Fundão. Tão no centro e tão bem integrada na aldeia que foi preciso olhar duas vezes para aqueles muros brancos baixinhos para perceber que já tínhamos chegado; estávamos mesmo defronte ao hotel que procurávamos para essa noite.
Era final de Julho e estava muito calor, e aqueles muros brancos, baixinhos, mais a piscina que não se conseguia esconder atrás desses muros, foram o primeiro vislumbre do oásis que nos preparávamos para experimentar.
A estadia na Cerca Design House foi uma espécie de visita de médico; uma estadia de uma noite, o que me pareceu pouco. Bastou aliás que Marta Rafael, a diligente proprietária do espaço, nos falasse das
levadas da serra da Gardunha; e contasse que a equipa da Cerca Design House andava por aqueles dias a fazer um levantamento do percurso da água que desce da serra até a aldeia de Chãos, e que nós poderíamos conhecer uma parte desse percurso.
A Marta não é de Chãos, nem passara muito tempo da sua vida em Donas antes de passar por lá e ter visto o magnífico solar do século XVII à venda. Agora está lá quase todos os fins de semana. E, durante a semana, sempre que consegue e é preciso. Marta trabalha na área da construção civil e especializou-se na reconstrução de edifícios. E isso nota-se quando, no final da pequena conversa das apresentações, nos dispusemos a conhecer um pouco mais da casa que nos ia acolher nas próximas horas.
Foi nessa visita que fui apresentada ao estábulo transformado para receber um jacuzzi; não chegamos a experimentar, porque o calor pedia piscina e o jacuzzi parece mais aperitivo nos períodos mais frios.
E foi também ali que me deliciei com a sala comum, um magnifico espaço lounge com um impressionante pé direito (na verdade, tem a altura de dois andares) e notáveis janelões a rasgar as paredes de pedra. Os apontamentos de cor escolhidos para o mobiliário e a bonita parede de azulejos, tão bonita e tão portuguesa, fazem o resto. São muitos e variados os elementos que me fazem ali sentir bem. É, sem dúvida, o meu espaço preferido da Cerca Design House, mesmo que tenha passado a maior parte das horas daquele meu dia enfiada na piscina com as crianças.
Todos os quartos da casa receberam nomes de vegetação típica da serra da Gardunha. E depois de conhecer os quartos (o quarto estrela da casa, instalado na antiga capela tem uma janela talhada com a forma de um malmequer) e os seus nomes, mais vontade me deu de conhecer in loco essa vegetação no passeio até à levada, feito ao fim da tarde e tendo Cristiana, uma funcionária nada e criada no Fundão, como guia.
Uma visita imprescindível não só pelas imagens bucólicas dos raios de sol a atravessar as folhagens das árvores e a iluminar o solo, cheio de densos fetos, sempre ao som da água a correr pela levada, mas também pela oportunidade de conhecer mais histórias da aldeia e de toda a região. Acabamos a “cravar” à Cristiana todas as dicas para os próximos dias – e para sempre que regressarmos à Gardunha. As recomendações feitas sobre restaurantes revelaram-se acertadas.
Fiquei a dormir no quarto “Feto”, e foram os fetos que mais me impressionaram nesse passeio às levadas. Ficou por conhecer o “cardo”, a “orvalhinha”, o “sargaço” e a “campainha”, por exemplo. Plantas mais fáceis de encontrar noutras épocas que não o pico do verão. Mais uma razão para voltar a Donas e à Gardunha – essas plantas, e as cerejas, claro. Que eu bem as vi, às cerejeiras. Mesmo sem a fruta e sem a floração, não deixam de ser árvores lindíssimas e protagonistas de belíssimos pomares.